Alguém Orou

No dia 12 de outubro de 1958, um pequeno grupo de 12 pessoas, missionários americanos recém-chegados ao Brasil, se reuniu para um culto não oficial em uma casa na cidade de Campinas, interior de São Paulo. A celebração, marcada pela simplicidade, talvez tenha ocorrido sob a luz suave do crepúsculo daquele domingo ou na manhã radiante que atravessava as amplas janelas da casa no bairro do Cambuí. O culto foi singelo: o hino “Ele Habita”, provavelmente entoado acapella, uma leitura de Atos 2 e, em seguida, uma oração humilde feita pela esposa de um dos missionários. Em concordância, eles clamaram para que “o poder de Deus os capacitasse a cumprir a missão que lhes fora confiada no Brasil”.

Posso imaginar o misto de incerteza e vulnerabilidade que envolvia aquele momento, equilibrado pelo fervor e entusiasmo diante do vasto e desconhecido campo missionário. Tudo era imprevisível, talvez até assustador. O que poderia surgir a partir daquela reunião tão simples? Só o Senhor sabia. A oração foi conduzida por Gladys Mosteller, esposa de Earl Mosteller, pioneiros plantadores da Igreja do Nazareno no Brasil. Hoje, esta denominação já conta com mais de 700 igrejas espalhadas por todos os estados, com milhares de membros.

Mas, ao estudar sobre esse evento para um trabalho acadêmico, fui impactado por um simples detalhe: antes de alcançarmos essas marcas, há 65 anos, alguém orou. Naquela noite, enquanto ela intercedia pelos templos que seriam erguidos, pelos futuros pastores, líderes e membros, orava também por mim. Muitas vezes não percebemos que, quando cristãos do passado intercederam pela expansão do Reino e pelos perdidos, de algum modo, oraram para que o homem que pregou para o homem que pregou para você fosse alcançado — e assim, de forma misteriosa, você também foi tocado. Não pretendo soar determinista, mas sim destacar como o evangelho se propaga por meio de uma cadeia de eventos.

Wesley orou, Bresee orou, Mosteller orou, e tantos outros nazarenos intercederam até chegar a mim. Antes deles, Paulo orou, Pedro orou, e me lembrei daquele que intercedeu, não apenas por Wesley ou por qualquer outro pregador, mas por todos nós. No seu momento de maior angústia, Cristo teve tempo de pensar em nós: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela palavra deles, hão de crer em mim.” (João 17:20).

Qual é a relevância da intercessão? Qual o seu efeito e poder? Não é possível medir. A intercessão possui um poder indescritível, cujas dimensões são insondáveis. Talvez, só na Eternidade, compreenderemos plenamente quantas almas foram alcançadas porque o Senhor atendeu às nossas súplicas. O cumprimento de uma oração raramente é visível a olho nu, mas é certo: alguém orou.

“Procurei entre eles um homem que erguesse o muro e se pusesse na brecha diante de mim e em favor desta terra, para que eu não a destruísse, mas não encontrei nenhum.” (Ezequiel 22:30). Este versículo refere-se ao período que precedeu o cativeiro, quando o povo se afastava de Deus e não havia ninguém justo para interceder. Nos dias dos patriarcas, em um contexto de juízo semelhante, Abraão se colocou na brecha por seu sobrinho Ló, e Deus ouviu sua oração, poupando-o durante a destruição de Sodoma (Gênesis 19).

A oração intercessória de um justo é, muitas vezes, tudo o que um enfermo terminal tem como esperança e um pequeno facho de luz para quem está perdido nas trevas. Ela é o sustento de um faminto distante e o apoio de um irmão prestes a cair. Nunca subestime o valor de interceder por alguém, mesmo que você não veja os resultados imediatos, ela pode muito em seus efeitos.