Cativai: Ide e Fazei Amigos

“Você não passa para mim mais do que um Pequeno Menino, tão semelhante a outros cem mil. Mas se você me cativa, seremos um do outro, únicos no mundo. (…) Cativar é criar laços.” – O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint Exupéry

    “Criar laços“, essa é a essência das interações humanas. Amizades, não são mera conveniência, mas a vivência constante e cada vez mais profunda entre pessoas que até então, eram apenas desconhecidas. As conexões geram profundidade e a profundidade gerará uma amizade real. Existem boas amizades que nunca aflorarão, por falta de laços que os conectem. É como estar em um ônibus lotado de desconhecidos, será que alguém ali que realmente é importante para você? Dificilmente. Ainda que você possa se identificar com alguém simplesmente pela aparência, não seria algo tão intenso ao ponto de surgir uma amizade (ou amor). Ainda que a atração à primeira vista pudesse ser intensa, não existe amor que surge em um contato tão superficial. Em suma, creio que não exista “amor à primeira vista”. Podemos dizer que, ao primeiro momento, todos são totalmente irrelevantes uns para os outros.

    Cativar é se tornar relevante. É deixar marcas ao ponto de saber que sua existência, no fim, é importante para alguém. E ser relevante, não no sentido de ser amado, mas de amar. Não no sentido de ser servido, mas de servir. No sentido de se importar, sem que se importem ou esperar algo em troca. A entrega é o que cativa.
    E neste ponto vemos uma grande inversão que existe em nossos dias. As pessoas buscam ser o centro das atenções, cativar pessoas para si, mas sem entregar nada de sua parte. Não é por menos que nossas relações sociais se tornam cada vez mais superficiais, pois não criamos marcas nos outros. Isso gera relações tóxicas, pautadas no “eu”, onde cada um quer se tornar o sol de seu próprio sistema solar.

    Quando Cristo disse-nos: “ide e fazei discípulos” (Mt 28:19), não era pensando em gerar altos números de conversões superficiais que só servem para encher bancos. Sua intensão era gerar profundidade neste discipulado, de forma que aquele que discípula cative seus discipulos. Ele nos chamou para conduzirmos pessoas a conhecê-lo através de nosso relacionamento com elas. É no tato, na rotina, partilhando de nossas vidas que criamos laços, e criando laços, cativamos. Conquistamos a admiração dos outros por nós. E se somos reflexo de Cristo, em nós eles encontrarão o referencial perfeito que deve ser seguido.
    Não há ninguém mais cativante que Cristo, pois Ele próprio veio ao mundo na posição de servo. Os discípulos de Cristo foram convocados a gerar (e cuidar) de novos discípulos, portanto ao submeter-se ao discipulado deve-se encará-lo como servidão onde o servo será sempre você, pois “quem quiser ser o maior deve servir aos demais” (Mt 20:26). Não é encontrar alguém para “carregar o seu casaco”, “pagar o seu almoço” e “fazer o seu dever de casa”, mas alguém por quem você possa fazer estas coisas. Assim como Ele deu o exemplo ao nos cativar, fez-se relevante a todos nós. Se tornou Único no mundo para todos aqueles que são cativados pela cruz do seu amor.

1 Comment

  • Tay

    Incrível como mesmo no início do texto,antes de você citar Cristo e as Escrituras, já era possível sentir o Amor de Jesus em suas palavras, de fato, és um reflexo de Cristo aos outros que estão a sua volta.

    Que paremos de dar ouvidos ao nosso ego que busca incansavelmente ser o centro de tudo, e possamos escolher servir a ser servido, que possamos escolher amar o próximo como Cristo amava e ama, que sejamos como Jesus.

    Serviço traz cura em nosso egoísmo, em nosso eu, em nosso coração mesquinho.

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Victor Freitas

Rabiscando papéis desde os nove anos vejo na escrita a forma de conversar comigo mesmo, e através dela convido o mundo para participar desse diálogo. 

Reflexivo e poético, me pego explorando o mundo através de suas metáforas. Romantizando as emoções e os desafios que enfrento todos os dias. Um retrato parecido com os roteiros vividos por cada um de vocês.

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